Minas de Castromil

Por admin, Sábado, 05 de Junho de 2004 - 00:00

Da autorização prematura, à revolta dos Sobreirenses

Quase todos os Sobreirenses sabem que as minas de ouro de Castromil estiveram para ser reutilizadas à cerca de 6 anos, nessa altura o desconhecimento da população da Sobreira em relação às consequências de possí­vel exploração, embora combatido com alguns debates (estou-me a lembrar do que decorreu na Escola E.B. 2,3 da Sobreira e que teve gravações televisivas), imperava e tornava a manipulação de informação demasiado fácil para quem a quisesse praticar. O Sobreira.net foi à procura de informações precisas sobre o que se passou e o que se poderia passsar. Eis o resultado dessas pesquisas:

  • As minas de Castromil foram inicialmente exploradas pelos Romanos e encontram-se abandonadas desde 1940.
  • A empresa que se proponha a explorar a zona em 97/98 é a empresa irlandesa Minmet Plc associada com a Connary Minerals que detêm também a exploração de algumas minas no Brasil.
  • As negociações com o governo Português estiveram quase a serem concretizadas segundo um site britânico (neste artigo), refere que um representante do Ministério da Economia Português dava como certa a licença de exploração dentro de poucas semanas.
  • Após estas notí­cias várias associações ambientais e cientifí­cas deslocaram-se a Castromil para avaliar as condições de exploração da respectiva mina. Os resultados das observações de um dos intervenientes, a Faculdade de Ciências do Porto, estão disponí­veis aqui e os resultados do impacto ambiental são esclarecedores:

"A exploração de jazigos minerais acarreta diversos problemas ambientais. São de salientar a contaminação de águas superficiais e subterrâneas, a alteração da morfologia e da paisagem, a poluição atmosférica e sonora e o empobrecimento e contaminação dos solos. Além disso, da exploração de minas podem surgir consequências ao ní­vel da saúde pública e do património cultural (Castromil, 1998).
Em particular nas minas de Castromil, foram efectuados estudos de impacte ambiental, no intuito de estudar a viabilidade do projecto de exploração mineira pela Connary Minerals (Dezembro de 1997). Neste estudo foram analisadas as condições ambientais da área antes da abertura da mina e foi feita uma previsão dos impactes positivos e negativos no ambiente provocados pela exploração do jazigo (ver figura 1). Foram também sugeridas medidas para diminuir ou eliminar os impactes negativos e aumentar os efeitos dos impactes positivos (Castromil, 1998).
"

Ainda segundo o mesmo estudo:

"Impactes Positivos

- Redução da poluição dos solos
- Criação de emprego
- Melhoria dos acessos
- Recuperação paisagí­stica de uma zona de floresta degradada
- Redução da presença de águas contaminadas
- Aumento do valor dos terrenos
- Diminuição das importações de ouro no paí­s
- Aproveitamento de um recurso natural

Impactes Negativos

- Modificação da topografia
- Criação de um aterro de resí­duos no local
- Impacte visual
- Possibilidade de contaminação residual

Como reacção a este estudo de impacte ambiental, a população de Castromil elaborou um documento ("Exposições e reclamações da população de Castromil" - 30 de Março de 1998) onde apresentou as razões que levaram à oposição ao projecto de exploração da mina de ouro proposto pela Connary Minerals."

E a resposta da população da Sobreira:

"Como reacção a este estudo de impacte ambiental, a população de Castromil elaborou um documento ("Exposições e reclamações da população de Castromil" - 30 de Março de 1998) onde apresentou as razões que levaram à oposição ao projecto de exploração da mina de ouro proposto pela Connary Minerals.

Neste documento são descritas algumas das crí­ticas da população aos impactes positivos descritos no estudo de impacte ambiental.

Relativamente às medidas propostas para reduzir a poluição dos solos existem muitas lacunas, no que se refere ao tratamento das partes actualmente contaminadas ou a contaminar (Castromil, 1998).

No que concerne ao factor emprego, o aumento dos postos de trabalho propostos pela Connary Minerals é feito à custa da ocupação de terrenos agrí­colas, o que iria inviabilizar a actividade profissional da população local que se dedica à agricultura (Castromil, 1998).

No que se refere à melhoria dos acessos, não é contemplado o aumento da intensidade de tráfego e da degradação das vias rodoviárias, provocados pela circulação de máquinas necessárias para a exploração (Castromil, 1998).

As medidas apresentadas pela empresa para a recuperação da paisagem foram insuficientes já que a exploração das minas diminui a área verde, essencialmente da zona de Reserva Ecológica Nacional e de Reserva Agrí­cola Nacional, aumenta a erosão e diminui a capacidade de regeneração da vegetação (Castromil, 1998).

Para a população, a redução da contaminação das águas (superficiais e subterrâneas) proposta pela Connary Minerals parece um pouco contraditória, porque a abertura de galerias e a construção de escombreiras parece alterar o curso das águas superficiais e o caudal subterrâneo. Além disto, a contaminação quí­mica da água superficial e dos aquí­feros pela descarga de efluentes e pelos óleos e hidrocarbonetos utilizados na manutenção das máquinas não contribui para a redução da contaminação das águas (Castromil, 1998).

Apesar de se aproveitar um recurso natural para a exploração da mina, haveria o risco de esta exploração não ter resultados económicos significativos e, além disso, seria feita à custa da destruição de outros recursos naturais (como a vegetação) (Castromil, 1998).

Este documento faz, ainda, referência à perda do valor dos terrenos na zona devido à alteração da paisagem e ao aumento dos ní­veis de poluição atmosférica, sonora e das águas (Castromil, 1998)."

E se iní­cio era esclarecedor o final não fica atrás, uma conclusão directa e objectiva:

 

"As medidas apresentadas pela Connary Minerals não foram suficientes para que o projecto de exploração das minas fosse viável, tendo sido recusado pelo Ministério do Ambiente."

 

Mais uma vez a população da Sobreira mostrou o que é capaz de fazer quando se une em prol de uma causa. Bem-hajam aqueles que não se deixam corromper e continuam fiéis às suas origens!

 

Espero que este artigo seja esclarecedor e dê a tónica para futuras "batalhas" em prol do desenvolvimento sustentado da nossa vila. Gostava de saber o que pensam do assunto aqui tratado, usem os comentários para expressar a vossa opinião.

 

André Pinto

Sobreira.net - a Sobreira Online - um Povo com Futuro

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